|
MOVIMENTO DE CURSILHOS DE CRISTANDADE DO BRASIL
Rua Domingos de Morais, 1334, CNJ.
07 – Vila Mariana – CEP 04010-200 – São Paulo – SP
http//www.cursilho.org.br – E-mail: mcc-brasil@cursilho.org.br
Tel./Fax: (0xx11) 5571-7009
|
Carta MCC Brasil – AGO 2012 (156ª.)
“Desceu,
então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é
o meu Filho amado”. escutai-o!...(Cs Mc 9,5.7) “Levantai-vos, não tenhais medo”
(Mt 17,7).
“Pois
não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder
e a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas
oculares da sua grandeza. efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de
Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez a ouvir aquela voz que
dizia: “Este é o meu Filho bem-amado, no qual está om meu agrado”. Esta voz,
nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele na montanha santa” (2PD
1,16 -17).
Irmãos e irmãs, lavados pelo sangue redentor do Senhor Jesus e com Ele
transfigurados à sua imagem: esteja com vocês a luz fulgurante da graça divina!
Acompanhando as celebrações litúrgicas deste mês de
agosto, podemos mergulhar em nossa reflexão num dos momentos mais
significativos para a nossa fé no Filho de Deus: a transfiguração de Jesus no Monte
Tabor (dia 6). E, é claro, ainda que somente numa breve referência por ser
limitado este nosso espaço, lembrar a festividade da Assunção de Nossa Senhora
(dia 15; neste ano, na Igreja no Brasil, transferida para o domingo seguinte,
dia 19).
1. Escutar Jesus
a)
Escutar apenas Jesus no seu coração, na sua vida.
Os ruídos externos, as vozes que vêm de fora, os rumores da publicidade através
dos modernos e ousados meios de comunicação, as nossas “necessidades
necessárias”, enfim, as seduções quase irresistíveis do consumismo e do prazer,
tudo isso vai criando como que uma muralha entre a Palavra – Jesus – e o
coração de quem a ouve. Assim, de tal modo somos envolvidos, que nem sempre
conseguimos escutá-la. A mente humana torna-se uma verdadeira caixa de
ressonância que nos impede de “escutar” tudo o que Jesus tenta nos comunicar. Pois
“escutar” é muito mais penetrante do que, simplesmente “ouvir”. O “ouvir” é
transitório ou, como se costuma dizer, é quando a palavra ‘entra por um ouvido
e sai pelo outro’. O “escutar” percorre o caminho mais longo que, entrando primeiro
no ouvido, em seguida vai á mente e, depois, chega ao coração. Os ouvidos ouvem
a Palavra, a mente a escuta e o coração aberto a recebe e assimila na vida. É
ali, nas profundezas daquele órgão que simboliza a vida, que experimentamos a
emoção da Palavra. Emoção que, de volta à mente, deve levar a uma opção de
vida. De forma que a Palavra, entrando e transformando a vida de quem a escuta,
impele a descer do Tabor do enlevo, do Tabor da admiração, do Tabor da mera
contemplação sem a ação evangelizadora ou do Tabor da acomodação à pura e
ruinosa rotina... Para voltar ao chão do dia a dia, transfigurado pela Palavra
e com a Palavra. Do mesmo modo que a Pedro, privilegiado expectador de Jesus
transfigurado, também a nós pode assaltar-nos a tentação de armar tendas: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou
fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias” (Mt
17,4). Com uma agravante para nós: talvez, até, propuséssemos armar uma “tenda
pessoal”, ao contrário de Pedro que, desinteressadamente, esqueceu-se de si
mesmo e dos companheiros...
Agora, meu irmão, minha irmã, uma pergunta que não
quer calar: você “ouve” somente, ou “escuta” a Palavra daquele que é o Filho
muito amado do Pai? Se a escuta, você tem a coragem de descer do seu Tabor e
tenta colocá-la em prática na solidariedade, na compreensão, na verdadeira
amizade fraterna, no perdão, etc.? Ou deixa-se envolver por outras palavras barulhentas
que agridem seus ouvidos entrando na sua mente e, até, no seu coração e que,
portanto, acaba determinando sua maneira de pensar – sua mentalidade – e
orientando o rumo de sua vida? Aliás, são palavras ou ruídos que podemos
identificar, segundo São Pedro, como “fábulas inventadas”: “Pois não foi seguindo
fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vontade de
nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua
grandeza”.
b)
“Levantai-vos, não tenhais medo”. Será que também nós
temos medo de escutar somente Jesus? Com muita razão, um bastante respeitado teólogo
moderno, o espanhol José Antônio Pagola, num excelente texto sobre a
Transfiguração de Jesus, afirma que devemos “escutar apenas Jesus”: “Também a
nós, cristãos de hoje, nos mete medo escutar somente Jesus. Não ousamos
colocá-lo no centro das nossas vidas e comunidades. Não lhe deixamos ser a
única e definitiva Palavra. É o próprio Jesus quem nos pode libertar de tantos
medos, covardias e ambiguidades se nos deixarmos transformar por Ele” [1].
De fato, por experimentá-los em nossa própria carne, cada um de nós sabe de que
medo da escuta da Palavra é possuído. Eu diria, melhor, até dominado ou escravizado
por eles. Há, portanto, medos pessoais: medo da escutar a Palavra para não nos
comprometermos com ela; medo de sair dos nossos comodismos; medo de renunciar
aos nossos insaciáveis desejos do ter e do poder; medo de ser solidários; medo
de ser julgados como ignorantes do que seja “levar vantagem em tudo”; medo,
enfim, da prática do “sermão da montanha”, isto é, da prática das
bem-aventuranças (Cf. MT 5,1-11). Parece que só não temos medo de erguer nossa
tenda no Monte Tabor!
E há os medos, digamos, “genéricos”. Entre esses medos,
aproveito para partilhar com meus queridos leitores, alguns medos citados pelo
mesmo Pagola[2] e
que são próprios dos que – como nós, Igreja que somos – querem ser
evangelizadores: a) o medo do novo, do
desconhecido e da nova cultura que estão vindos por aí. Mesmo no trabalho da missão
prefere-se o que o Documento de Aparecida chama de “uma pastoral de mera
conservação” (Dap 370). Pagola acrescenta: “No entanto, não é menos verdade que
o que move a Igreja nestes tempos não é tanto um espírito de renovação, mas antes
um instinto de conservação”; b) o medo de “assumir tensões e conflitos que traz consigo o procurar a
fidelidade ao Evangelho. Calamo-nos quando devíamos falar; inibimo-nos quando
devíamos intervir... preferimos a adesão rotineira que não traz problemas nem
indispõe a hierarquia”; c) o medo
de “antepor a misericórdia acima de tudo, esquecendo que a Igreja não
recebeu o ‘ministério do juízo e da condenação’ mas sim, o ‘ministério da
reconciliação’. Há medo de acolher os pecadores como Jesus fazia. Dificilmente
se dirá hoje da Igreja que é ‘amiga dos pecadores’, como se dizia do seu
Mestre”. E termina Pagola o elenco de alguns medos, com a reação dos discípulos
e a intervenção de Jesus: “Segundo o relato evangélico, os discípulos caem por
terra ‘muito assustados’ ao ouvir uma voz que lhes diz: ‘Este é o meu Filho
muito amado... Escutai-o’. Mete medo escutar apenas Jesus. É o próprio Jesus
que se aproxima, toca-lhes e diz-lhes: ‘Levantai-vos e não tenhais medo’. Só o
contato com Jesus nos podia libertar de tanto medo”.
A Transfiguração de
Jesus revela-nos a nossa própria transfiguração em filhos e filhas de Deus; de
filhos e filhas de Deus em discípulos do seu Filho muito amado; de discípulos
apaixonados em missionários sem medo e ardorosos e, consequentemente, alimenta
a nossa esperança em “‘novos céus e nova terra’, nos quais habitará a justiça”
(2PD 3,13; AP 21, 1-4).
2.
Maria assunta aos céus. Não podíamos deixar de lembrar aqui
a celebração da Assunção de Maria aos céus. Aquela Maria que, ao anúncio do anjo,
teve receio de ser a mãe da Palavra, mas que, cheia de divina coragem, não teve
medo do que poderiam dizer seus vizinhos e parentes diante de sua gravidez;
alegre, visitou e serviu sua prima Isabel e “esteve
com ela três meses” (Cf. LC 1,56); fortalecida, acompanhou, passo a passo,
o seu Filho pelos caminhos desafiadores de sua missão de anunciar o Reino; mais
corajosa ainda, com Ele percorreu a Via Sacra e, aos pés da cruz, nos recebeu a
todos nós como filhos e filhas.
Intercessão.
Ó Maria assunta aos céus, livra-nos de todos os medos, infunde-nos coragem e
ânimo nesta nossa peregrinação terrestre rumo ao Reino definitivo,
auxiliando-nos, pela constante conversão, a nos transfigurar à imagem do seu próprio
Filho e alimentando a nossa esperança na futura ressurreição. Amém!
Meu abraço fraterno para
todos os queridos “transfigurados” na luz do Senhor Jesus!
PE.José Gilberto
Beraldo
II Assessor
eclesiástico Nacional Adjunto
E- mail: jberaldo79@gmail.com